quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Sobre diálogos

Lembro de um comentário de Quentin Tarantino, nos extras do dvd de seu grandioso Reservoir Dogs (Cães de Aluguel), em que ele explica o que acontece quando escreve os diálogos. "É como se eu deixasse os personagens conversando, ficasse só observando, e escrevendo".
A maioria dos diálogos que eu leio não transcende uma suposta linha que separa um papo que poderia acontecer na realidade de uma conversa entre marionetes.
Quando eu me proponho a escrever um diálogo, cada vírgula parece ter uma gravidade ainda maior do que já tem nos outros textos. Uma exclamação precisa ser colocada no momento preciso para dar o efeito certo, assim como toda a pontuação e com cada palavra.
Há falas que precisam ser repetidas. Tem pessoas que escrevem sem os erros de linguagem, abreviações e cortes que naturalmente fazemos ao falar, mas mesmo assim conseguem manter a naturalidade. Outros insistem em transcrever todos os vícios da oralidade, deixando às vezes a conversa chata e pouco convincente.
Meus diálogos são muito pouco convincentes, mas acredito que essa minha noção da realidade é importante para que um dia eu alcance a espécie de feeling que se deve ter para acertar a mão na hora de escrevê-los. E que, claro, para os que não nasceram tão iluminados (meu caso), só pode ser adquirido depois de se ler muito.
Por isso, vamos ler livros, vamos ler os diálogos, minhas criancinhas.