domingo, 29 de julho de 2007

Bairro Paixão

Depois de inúmeras tentativas de reconciliamento, seu Silva, já com seus 74 anos incompletos, consegue uma brechinha mais de dona Maria.
Dona Maria fora alertada pelo seu filho que seu Silva não era flor que se cheirasse quando tratava de mulheres. Uma vez vira seu Silva no bairro Paixão, longe de onde morava, e o filho de Maria resolveu segui-lo, intrigado com o caminho que o namorado de sua mãe tomava.
Por incrível que parecesse aos seus olhos, viu, o gaúcho cavalheiro, que enchia a casa de sua mãe sempre com frutas, verduras, legumes, fazendo o mesmo, agora em outra casa, do outro lado da cidade, no bairro Paixão.
Indignado, Pedro contou tim tim por tim tim para dona Maria, que sentiu-se traída, corneada. Decidiu não mais dar trela para seu Silva. Ele aparecia na sua casa com compras e ela, irritada, mandava-o embora, dizia que não era mulher de precisar da ajuda masculina para sobreviver, tinha dinheiro para comprar suas comidas e não precisava das suas "esmolas". "Suma daqui" esbravejava a senhora.
Até que um dia, numa tarde fria premeditando uma noite congelante, seu Silva aparece na casa de dona Maria pedindo que esta o abrigasse, que dormiria pela sala mesmo, sem precisar de mais, pois só a quentura de sua casa bastava para aquecê-lo naquela noite fria, já que a sua moradia não era quente suficiente.
Dona Maria com seu jeito rude não conseguiu negar tal pedido, tão mole é seu coração por dentro, e liberou a estadia do homem que havia traído-a. Perguntou, antes de liberar que ficasse, se estava indo ainda ao bairro Paixão. Seu Silva sem titubear respondeu negativamente, quase a beijar seus pés.
Dormiram em paz até as 4h da manhã, quando dona Maria resolveu tirar concretamente aquela dúvida que pertubava sua noite: haveria ele parado mesmo de frequentar Paixão?
Sem mais, teve uma idéia e foi colocá-la em prática: remexeu os bolsos de sua calça na esperança de descobrir alguma pista. Ôpa! Uma nota fiscal. Supermercado Pague Bem, rua Alfredo Dias número 34, bairro Paixão.
-Então o safado estava mentindo? E eu tenho cara de chifruda?Ah, mas agora ele vai se ver comigo - pensou dona Maria.
Aos tabefes acordou seu Silva e querendo mesmo que ele virasse picolé, jogou suas roupas pela janela e gritou: "Saia daqui, seu velho safado! Você acha que eu tenho cara de mulher chifruda? Nunca mais volte na minha casa, seu sem vergonha ... ".
Assim que ele ia saindo ela perguntou, só para confirmar.
-Me diga, essa notinha não é do Supermercado Pague Bem no Paixão?
Ele, corcunda e trêmulo afirmou com um leve balanço da cabeça e um baixinho "sim".

terça-feira, 24 de julho de 2007

a alma dança




O processo de libertação continua a cada escala, de dia, segundos, estações... Nas articulações, dedos, pernas, braços, quadris, o desenvolvimento cresce aos poucos e a descoberta surge.

No que se concilia, o encaixe acontece, do sentimento com movimento, ou vice-versa.
Dançamos não só com o corpo, as palavras, idéias, sons, desejos, imagens têm vida e criam a cada instante coreografias ricas em compassos, pausas, ritmos, intenções...
Nossa história dança, nosso choro dança, a desepedida, o encontro, o desencontro, o desepero, o amor, a descoberta, a dúvida, a alma dança.
Que se assuma o cenário, os sons, as articulações e o espetáculo comece, sem fim, um espetáculo de público incerto, flexível.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Não há desenxabido que não se desenxabide com seu desenxabimento.


desenxabir:1 retirar o sabor 2 tornar monótono, sem graça; desanimar [...] *

*Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa

domingo, 22 de julho de 2007

Não adianta lavar, enxugar, perfumar-se. Uma vez dentro, o cheiro ganha vida e é exalado sem que ao menos autorizemos. Nos acompanha idependente de cronologia ou quilometragem.
E depois de percebido abre portas para os outros sentidos.
Imagens, cores, texturas, vozes, músicas, mágoas, amores... E assim enxergamos olfativamente.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Cadê tu, tatu?

E a égua rosa?
Aquela dos pesadelos chiques

Por onde anda a que maltrata os homens?
E a flor presa ao seus maltratos?

Ah, as piadas...
Por onde andam os travestis?

Bacana, Joana...
Dama da livre poesia

Dê-nos mais uma de suas fantasias...

domingo, 15 de julho de 2007




na "espiralidade" da vida
seguimos em linha curva
uma linearidade distorcida

sábado, 7 de julho de 2007

"Até o sol raiá"

Maratonas Anima Mundi. Que delícia.
Acho que por não ter pego esses 15 anos de Anima Mundi, me encanto tanto com o evento. Vejo cariocas que mal sabem do acontecimento, para mim tão rico e imperdível.
Animações do mundo inteiro, curtas, longas, papos animados, exibições de animações antigas e recentes, fantástico.
Neste 15º Anima Mundi, os brasileiros arrasaram. Foi o primeiro ano em que mais curtas brasileiros foram selecionados. Sempre são os que mais se inscrevem, naturalmente, mas pela primeira vez foi a maioria na seleção. E, sem patriotismo exacerbado, todos que vi mereceram elogios sinceros.
O mais marcante para mim foi "Até o sol raiá".
Fui assistir a sessão dos "Curtas 4" por ironia do destino. Estava tomando uma caipirinha pouco antes de ter decidido ir para casa quando uma mulher passou oferecendo ingressos para a sessão das 21h. De primeira recusamos, todos da mesa, pois já haviam comprado, menos eu. Eu não queria ir, a princípio. Só depois de alguns segundos pensei "Ah, de graça...". E fui.
E foi por causa dessas frações de segundo que agradeço a oportunidade de ter visto algo tão "revolucionário", sensível e bonito, como o curta "Até o sol raiá".
Antes de começar a sessão, a apresentadora chamou dois diretores do curta pernambucano, que estavam no público, para falar um pouco. E lá foram os dois, garotos, com sotaque arrastado e fala pouco ofegante, dizer do nervosismo e felicidade que era poder estar participando do Anima Mundi. Foram muito simples e torceram para que gostássemos do seu trabalho.
Como puderam torcer? Até agora me pergunto isso. Será que não têm noção da maravilha que é o curta?
Sem pretenção de usar termos técnicos ou acertar na crítica, mas com olho de espectadora digo que a animação é no mesmo nível de Shrek , computadorizada e perfeitamente detalhada. Ilustração belíssima. E a história, então... sensibilíssima!
Lampião e Maria Bonita, como bonecos em miniaturas pernambucanos, introduzidos por um cordel belissimamente recitado e elaborado. Um gozo, só vendo...
Me emocionei no final, de orgulho, do Brasil e do Nordeste.
Usando de recursos tão recentes, tão informatizados, para retratar uma história cultural, linda e ancestral do nosso povo.
Acha-se no Google. Procurem, assistam o trailler.
Que sejam tomadas cada vez mais iniciativas como essa, e que recursos sejam aplicados em jovens como eles, dedicados, competentes e sensíveis.

domingo, 1 de julho de 2007

Êta filme retado.

Como pode a vida nos pegar assim de surpresa?
Tenho me sentido dentro de uma sala de cinema, assistindo a um filme com aqueles óculos que nos permite "3Dear".
É, porque a vida tem aparecido para mim como mais um enredo, um roteiro bem elaborado, com uma fotografia belíssima e personagens pra lá de complexos.
Como uma espectadora chata e crítica, me pego perplexa em cenas onde não há tempo de digeri-las ou analisá-las, só senti-las.
Mas nos momentos em que a poeira abaixa, a música lenta toca, e meus batimentos saem do ritmo sincopado para um 3/4, uma valsinha, penso: ai, como será que terminará esse filme?
Que o diretor saiba o que está fazendo...