quarta-feira, 27 de junho de 2007

Uma piadinha besta

Era a festa de uma bicha glamourosa, celebração de qualquer coisa - aniversário, nova coleção de uma griffe, pouco importava o motivo. Sabe-se apenas que as ricas convidadas haviam preparado seus trajes com algumas semanas de antecedência, tudo obras com assinaturas famosas, alta costura mirabolante, exageros em alegorias carnavalescas.
A bicha anfitriã oferecera sua mansão de dez aposentos, jardim de raras bromélias e palmeiras imperiais com piscina semi-olímpica revestida de mármore para receber as convocadas à seleta comemoração.
Uma promoter foi contratada para ficar à entrada com a função de antecipar, munida de microfone, as chegantes e seus visuais.
"Atenção, gentem, que chegou a primeira bicha, abalando as estruturas em sua limusine 'Aurora Boreal'. Ela está vestida de Ariel, a sereia em fase punk", anunciava a bicha porteira. "Chegando agora, atenção gentem, Laleska Latielly, descendo da limusine 'Motivo Mexicano' no seu traje 'Frida Khalo visita Almodóvar".
E enquando registrava-se as aparições espetaculosas, a vizinhança católica apostólica romana ia enfurecendo cada vez mais com a barulheira pagã. Alta madrugada e nenhuma resposta às reclamações. Um vizinho militar resolveu acionar a polícia.
"Parece que a última remessa da bicharada aterrissa, gentem! Uma limunise enorme, em visual ultra moderno coberta por uma lona de cor salmon. Estão descendo dez... Vinte bofes fardados! AI! É A POLÍCIA, CORRAM BICHAS!!!"
E as meninas correm com a explosão da testosterona que lhes resta, deixando pra trás pena, pluma e purpurina. A polícia prende todas; algumas encenam um drama de novela, outras desmaiam, umas ainda agarram os policiais gritando "Me algema que eu gamo!".
A mais tímida delas, vestindo uma esvoaçante saia de gaze e filó azuis, bafa um canudinho e entra mansamente na piscina. Tentando se esconder, respira através dele no cantinho da piscina enquanto espera a poeira baixar. Um policial resolve fazer a última vistoria e já de longe avista aquela imensidão de panos boiando. Chega em passos leves e sem pressa cutuca a bicha com seu cassetete: "Já te vi, bicha"
A bicha vira-se, emerge de seus panos aquosos e, jogando a cabeça pra trás, exclama feito rainha: "Agooora? Mas eu sou Iemanjá e acabei de chegar..."

terça-feira, 26 de junho de 2007





Dedos curiosos à procura
Confundem carinho com textura

Mas é no calor da formosura
Que encontro a beleza da temperatura

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Cão sem dono

Vou falar um pouco do filme que vi recentemente. Não sei o porquê, mas me deu vontade.
Sem qualquer indicação, quer dizer, minto, com a indicação do JB, onde sempre olho a programação e de certa forma me baseio nas críticas, sempre um tanto quanto parecidas com as minhas, fui assistir ao "Cão sem dono". De um diretor que não conhecia e com um elenco tão desconhecido quanto, me surpreendeu.
Os primeiros minutos do filme nos deixa na defensiva. Bom, falo por mim, espectadora relativamente chata. O diálogo é espontâneo demais, isso me deixou com um certo receio, de início. Porque mais difícil que decorar um texto e dá-lo com intenções, é assumir um caráter totalmente informal e deixá-lo não-forçado. Mas conseguiram, e de maneira surpreendente.
O filme é todo muito leve e confortável de ser sentido, assistido. Os diálogos, cheguei a essa conclusão, eram todos improvisados, limitados a temas (não é possível que houvesse um texto pré-decorado). Isso fez com que me sentisse dentro do contexto, sentada numa roda de amigos, tomando uma cerveja, trocando uma idéia, conhecendo a casa do novo conhecido...
A atuação é prazerosa de ser acompanhada. As cenas não são forçadas, o sexo não é forçado, a conversa com o porteiro-pintor e com o cachorro-amigo também não são, ...
Enfim, um filme que vale a pena ser visto naquele momento que não sabemos se vamos ou para a casa de um amigo ou para o cinema. Opte pelo cinema e pelo "Cão sem dono".

sábado, 23 de junho de 2007

ACM

E o homem não resistiu a essa onda de boatos, menino(a)?
Afe, que figura pesada esse tal de Toninho Malvadeza; eu e meia Bahia matamos o cara, mesmo assim sobreviveu. Aqueles amuletos no seu pescoço têm força, viu? Deus é mais...

Pois então, o "hômi" não morreu não, AINDA não. Agora é só esperarmos que não vença nenhuma eleição de cá pra lá.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

"A masculinidade cobrada numa criança menino."
"E as relações disso com a homossexualidade."

Pensei numa idéia que se resume resumidademente -pleonasmo proposital- naquelas duas frases. A idéia surgiu no ônibus, então, para não esquecer, peguei imediatamente o celular e anotei o que poderia achar ser suficiente para um pouco mais tarde, em casa, aqui, pudesse redigir integralmente ou não o que havia passado em minha cabeça.
Só que agora me ocorre ser um pouco polêmica a questão. Então deixo que seja o desenvolvimento da questão realizado pelos (as) leitores (as), eu agora não estou pra polêmicas...

quarta-feira, 20 de junho de 2007

E graças a sei-lá-quem, Salvador se livra da maior força coronelista que imperou até hoje, uma quarta-feira, dia 20 de junho de 2007: Antônio Carlos Magalhãe, Acm, MORREU!!!!!!

Sim, gente, M-O-R-R-E-U!!!

Chega não consigo respirar de tanta alegria!

terça-feira, 19 de junho de 2007

Todo dia ela faz tudo sempre igual...

Observações da vida cotidiana.

Aos berros, uma senhora deixa os arredores a par de sua conversa no orelhão:
-Não, eu não suporto mais isso. Essa mulher vive na minha casa e não olha para mim! Você vai ter que se separar dela, está ouvindo, meu filho? Eu não aguento mais!!!!


Conversando com uma mulher muito estranha de camisa comprida com gola, saia curtíssima, rosto incomum, nada simétrico, uma senhora morena explica-lhe, com ares de indignação e desaprovação:
-As crianças ficam loucas, largam escola. Claro, de 400 a 500 reais por semana. Até meu afilhado, menina... Menino bonito, B-R-A-N-C-O, alto, se meteu nessa...

Hoje, no meu parque de diversões, meu laboratório teatral, psicológico e sociológico, o Largo da Carioca, vi uma cena única: um homem corria da rua em direção ao interior do largo de forma angustiante. Nem tão rápido o quanto conseguia, com medo de que, involuntariamente, perdesse o controle corporal, e nem tão devagar porque a urgência de se chegar ao lugar procurado era demais. O corpo mostrava que as contrações se localizavam na região abdominal e glútea... Seu rosto mostrava a vergonha mas também a despreocupação com esta, pois afinal, era urgente seu caso. Não de vida ou morte, mas de pequeno constrangimento ou exposição íntima em praça pública. Pela cena senti a graça, por ele, compaixão.

segunda-feira, 18 de junho de 2007



iluminai-me, luminosa lua
traze-me sua firmeza, seu encanto
no contraste profundo, encontro a beleza

proeza do pranto

Encontros e desencontros.

sábado, 16 de junho de 2007

"19 vezes eu". Capítulo segundo.

Com 19 anos recentemente completos, quase duas décadas, é natural surgir aquelas pequenas crises existenciais quanto ao tempo de vida e o que será/foi feito durante este. E para exagerar bem, surgem aquelas retrospectivas também. Sim, aquelas que normalmente vemos em filmes ou ouvimos em histórias de quem quase chegou no "céu" e assistiu a um filminho com sua vida sendo o tema principal. Pois aqui tentarei transcrever tal retrospectiva. Portanto, seguindo a sugestão, aqui vai, "19 vezes eu".

- Capítulo segundo


Decidi mudar de colégio no Ensino Médio, o Portinari era um antro de patricinhas e mauricinhos e estava um pouco irritada com aquilo, me descobrindo cada dia mais rasa por estar convivendo naquele espaço de hipocrisia hierárquica.
Colégio Oficina era o famoso por ter sido fundado por professores alternativos, antes funcionando numa casa, onde nego subia em árvore, fazia pequenique, etc. Já viram que me encantei com a poesia apresentável do colégio.
1º e 2º anos no Colégio Oficina. Grêmio Germinal, grêmio Sapato 37 ( viva Raul!!), passeatas, apelido: Che (Joana é a única sobrevivente que revive estes passados), Magali Mendes, Manxa, João Pedro, Denise, Joana, Pedrão, Diego, Priscila, Lívia e muitos outros foram aparecendo, surgindo e se envolvendo, nos envolvendo, construindo algo que até hoje é sólido e prazeroso. Hoje é memória, e a memória vive, mas o presente também nos interessa e muito.
Foi nesse período que descobri o circo, o circo Picolino, o trapézio, Fafá, Marcinho, a estrela a dois, a cambalhota a dois, o cristo, o fogo, a contorção, os batimentos acelerados preparados para a entrada no picadeiro...
Abandonei o inglês para fazer aulas no Picolino, onde minha mãe também ingressou junto, mais para exercitar o corpo que para sugar dos movimentos.
Aí, no ano seguinte, 2004, saí do circo por motivos que se aqui acrescentados, param todos de ler agora mesmo. "Vou fazer dança, quero muito dançar, não tiro isso da minha cabeça por nada!".
Sim, dança. Lá fui eu. Dança moderna. Martha Graham. Depois.... "Fulana - gente! Esqueci o nome da professora- será que posso entrar na turma de ballet clássico?". Minhas batatas foram apalpadas, com gosto, para depois ouvir que sim, tinha força para ingressar no robotismo que foram os 4 meses de ballet clássico.
Não aguentei e voltei para o circo, agora só no tecido.
Depois saí e voltei para a ginástica olímpica - esqueci de citar meu ingresso nela nos anos do Portinari, onde descobri com uma amiga que amávamos a arte e vivíamos dando estrelinhas nos corredores. Eu, magra e comprida ao lado de várias crianças, brincando e se pendurando pra lá e pra cá, e eu suando, malhando, igual a uma "cuscuzeira", como, um dia, disse uma das crianças para mim.
Meu pai, numa visita a Salvador, me ofereceu a oportunidade de passar um ano fora fazendo intercâmbio, coisa que de início me assustou, de medo e felicidade. Estava chegando o momento de começar a putaria do 3º ano no Oficina, pois como já conhecia os que passavam por tal tortura, queria por tudo fugir daquela prisão massacrante. O intercâmbio era a melhor oportunidade.

Tanto carro

Um mar de carros. Seis e meia da tarde de uma sexta. Entre chuviscos que vão e voltam, dezenas de automóveis disputando vagas movediças. Calor. Sinfonia regida pelo furor das buzinas.

Eu penso nisso tudo, mas nada me estressa. Consigo me divirtir vendo. Estou sozinha. Sinto o calor e deixo a janela pela metade. Ouço e vejo o vizinho do Monza vermelho praguejar o trânsito e suar que nem um porco. Tem uma moça numa Pajero atrás de mim que permanece impassível dentro de sua bolha selada. Ela canta alguma coisa, percebo pelo meu retrovisor. Pelo dela, ela retoca o gloss.

Pra quê tanto carro, pra onde eles vão, meu Deus, perguntariam os olhos do meu Drummond da modernidade.

Tem um belo casal que conversa animadamente à minha esquerda. Minha vontade é de ficar olhando; estão tão lindos, mas não se pode olhar pra dentro do carro dos outros, é quebrar a cartilha de ética dos motoristas civilizados.

A fila do Monza vermelho anda e a minha fica parada, como previsto em outra cartilha, a de Murphy, a mesma que diz que a parte do pão com manteiga cairá sempre pra baixo.

Uma saveiro com meninos de sunga sobre a carroceria vira minha vizinha. Era de lá que vinha o som do Asa de Águia. Eu mereço. Meu olhar esbarrou com o de um deles, um meliante, diria meu pai, com uma garrafa de Birinight em uma mão e fazendo sinal com a outra para eu baixar o vidro, o que eu fiz imediatamente.

- Quer uma cerveja? - perguntou.
- Claro - respondi, natural.

Ele jogou a lata no carona, eu abri e bebi. Estava um pouquinho quente. Ele quis conversar, desceu do carro e veio até a janela, mas era feio e estava bêbado. Pra me salvar, o sinal abriu e eu falei: "Melhor você voltar pro carro, tchau".

E segui, até estacionar em novo engarrafamento, novas estórias.

* Texto publicado no www.intercom-ne.blogspot.com
A dádiva
O egoísmo
O egocentrismo...

Em que se baseia o amor?
Que amor amamos?
E com que amor desejamos sermos amados?

Merece ele essa pressão
da cobrança, da vaidade?

Que depositemos essas energias noutros caminhos,
já que são tantos os existentes...

Deixemos o amor livre para ser gozado.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Cachaça Cinema Clube



Fechando com chave de ouro ( o meu dia ) e as apresentações dos curtas e médias metragens do Cachaça Cinema Clube*, o último curta emocionou a todos com uma seleção sensível e popular de recordações amorosas relacionadas a músicas. De Heavy Metal a Zezé de Camargo e Luciano os cantos foram cômicos, espontâneos e emocionantes.
O que mais me marcou, e que fechou o filme de forma belíssima, foi o depoimento de um senhor negro e expressivo que contava seu caso de amor antigo e frustrado, lembrado até hoje.
Era uma italiana. Branca, linda. Foi em um dia que "eu se apaixonou". "Se apaixonou" mesmo, de chorar, pedir para casar, se declarar... O pai não permitiu pois era desempregado, ou seja, como sustentaria sua filha? Mas depois da insistência sincera de ambas as partes foi concedido o pedido.
Ela morava num apartamento alugado. Não sei mais como se dá cronologicamente a história, ele mesmo havia se perdido, ou sido "editado". Ele teve de ser transferido para algum lugar em serviço ao exército. Portanto ficou distante durante um tempo da mulher de sua vida, por quem havia batalhado aos 18 anos. Cumprido o prazo "do exercício de cidadão", corre atrás dela, que já morava em outro lugar. Achou o apartamento por informações alheias e a encontrou com uma bacia na cabeça. Ela o viu, e na hora, segundo os próprios movimentos do apaixonado, tapando o rosto com a bacia, pediu que se retirasse para depois, só depois, falar-lhe - este já é um momento "indignante" para o homem. A mulher havia passado tanto tempo longe dele e não o recebera com o calor do amor antigo? -. Depois quando a viu mais tarde, e aí conta de forma rápida, teve o desprazer de ouvir de sua amada que por causa de outro senhor não o amava mais.
Pouco andou depois disso e chorava, chorava. Não tinha vergonha de admitir...
Parece que tinha falado bem mais do que foi passado no filme, mas termina de forma sincera admitindo que até hoje não encontrara o amor de sua vida e que a italiana nunca iria sair de sua memória.
Ego ou amor?

Ah, a música? Nem me lembro qual era...

* Cachaça Cinema Clube: para quem não conhece, acontece mensalmente no cinema Odeon, no centro da cidade do Rio de Janeiro. É um evento fantástico que reúne cinema (curta-metragens), cachaça e música. São reproduzidos curtas com diferentes temas em cada edição e a cachaça é sempre a mesma -cuja marca me foje a memória- e pode-se optar pela amarelinha ou branquinha. O copinho é fofíssimo. Já tem 5 anos de existência e antigamente era anunciado nos jornais. Hoje é boca-a-boca. Somente no dia em que acontece é escrito no outdoor do Odeon "Cachaça Cinema Clube 21h". Essa decisão foi tomada para que não lotasse mais de forma absurda, como vinha acontecendo quando a divulgação antecedia o evento. Hoje, mesmo no boca-a-boca, lota! Os dj's são ótimos e quase que não saio de lá hoje de tão bom que estava. Sim, porque depois de distribuídas as cachaças o espaço de cima do cinema é aberto para dançar!

terça-feira, 12 de junho de 2007

ao amor que não tenho

Eu vejo um deserto. De certo que se amasse, avistava um abismo. Cismo, entretanto, ainda nem te conheço. O preço é o meu tempo, que nem conto e espero - sem esmero, porque você demora. Chora a moça do meu livro e eu penso que podia ser eu. Meu deserto tem o ouro dos tigres, eufrates e capibaribes, que eu guardo sob as pálpebras e talvez você nem saiba. Caiba talvez numa caixa de sapatos - mísero -, enquanto te idealizo. Realizo em um sonho. Medonho demais para ser lido... bandido!

domingo, 10 de junho de 2007

Poema em linha reta

Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)

[538]

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


"Leite, leitura,
letras, literatura,
tudo o que passa,
tudo o que dura,
tudo o que duramente passa,
tudo o que passageiramente dura,
tudo, tudo, tudo,
não passa de caricatura,
de você, minha amargura,
de ver que viver não tem cura"

Paulo Leminski

sábado, 9 de junho de 2007


"[...] Andando ao seu lado, em meio àquela gente que se arrastava pela rua, em direção ao café Strand, levei um dedo à boca e toquei meus lábios, aqueles lábios que haviam beijado os dela, um pouco como se esperasse achá-los mudados de alguma forma infinitamente sutil, e, no entanto, memorável. Esperava que tudo estivesse mudado, como o próprio dia, escuro, úmido, carregado de grossas nuvens quando estávamos indo para o cinema mais cedo, durante a tarde, e que, agora, ao anoitecer, exibia um sol alaranjado e sombras movediças, com a grama cortada reluzindo como se repleta de jóias, e um barco a vela vermelho lá na baía, virando a proa e rumando para o horizonte ao longe, que já ia ficando de um azul enevoado.
O café. No café. No café, nós. [...]"

Nada como uma descrição do primeiro beijo.

Páginas 125 e 126 de "O Mar" de John Banville, recomendo.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Sapatinhos mágicos



Era uma avenida larga e de mão dupla em plena orla de Niterói. Fui a essa cidade, considero, então pela primeira vez - pois a outra passagem havia sido há quase 10 anos atrás, nada lembrava da aparência da ciadade. Foi à noite. Conheci rapidamente, de carro, as praias "principais" e o caminho de lá até a Boa Viagem, onde próximo, tem um linda igreja (acho) com muralhas antigas... Não minto que até me encantei com a cidade, e de noite. Queria poder voltar e vê-la à luz do dia para saber qual seria minha impressão.
Os prédios me chocavam de quando em vez, não muito diferente das orlas cariocas e soteropolitanas, onde há pedaços- na carioca, quilômetros e quilômetros- de prédios construídos com altura prejudicial à ventilação do interior da cidade.
Num silêncio acompanhado da espera surge um carro branco à nossa frente. A avenida estava pouco movimentada e o carro parou tranquilo no meio dela para um indivíduo, sentado no banco do carona, tentar se comunicar conosco. Só vi a cena da janela e uma imensa esfera, ou de repente outra figura geométrica qual nome não sei, azul, acompanhando o desenho da sua face. Era uma grande peruca, combinada com um rosto cuja feições eram fantásticas de tão produzidas, boca imensa, cores saltitantes... Pergunta, afetadamente, algo que nesse momento não me recordo, e que no momento, estava, provavelmente, concentrada na plasticidade daquela tomada. Só que aos poucos fui procurando interagir com os olhos, estava segura de mim, ela, a Drag, queria era a atenção dos homens que estavam presentes, mas eu despertei nos olhos dela interesse quando viu meus sapatos. "Oh, olha os sapatinhos dela.". Sim, são vermelhinhos, como os da Dorothy, mas sem salto. Todo purpurinado. Assim que vi a paixão pelos meus mágicos calçados perguntei também afetada, e hoje admito, me arrependo, se ela -ou ele, toma no sentido que quiseres- tinha gostado.
"Amei!! Você também é Drag??" perguntou articulando bem as palavras e sílabas. Me segurei e perguntei por quê, se parecia que era. Ela respondeu que com aquele sapato imaginou que fosse, e depois, bem firme sorri: "Vou tomar como um elogio, querida.".
Agora vejam como os meus sapatos são mágicos. Atraem até drag queens afetadas -um pouco reduntante esta frase, reconheço.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

A Preguiça.

Conheci a Preguiça há muito tempo. Na verdade eu sabia de sua existência desde muito pequena, mas desprezei-a durante um tempo. Achava pessoas mais legais para conviver, a Brincadeira, os irmãos Pulos e Saltos, e a Preguiça, a Preguiça eu sempre excluí na minha infância.
Depois de um tempo, quando comecei a crescer, a conhecer a Responsabilidade e não saber normalmente como lidar com aquela personalidade confusa, conheci a Preguiça. Conheci mesmo, dei crédito para ela manifestar-se e comecei a me interessar por alguns de seus discursos.
Fomos convivendo assim, primeiro nos conhecendo, depois ganhando uma intimidade... E como sabem, intimidade é foda! Brigamos muitas vezes. Ficava puta quando ela me trocava por outro(a), ou quando queria ficar grudada demais em mim. Relação conjugal mesmo, parecia.
Na verdade até hoje continuamos assim. E foram anos de convivência. Hoje assumo, bem-resolvidamente, que a Preguiça é minha maior inimiga e grande companheira.
Vocês conhecem a Preguiça?

De onde vêm as coisas do pensamento?

"Eu comecei cantando moda, sabe?
Música, comecei cantando música... aí depois a gente tava na rua tudo, coisa e tal, aí eu cantava uma música, batia na lata de doce, ele cantava também e batia, sab? na latinha de doce... agora... não sabia bater... batia, de qualquer jeito éé...era jeito, pra gente, sabe?...num sabia de nada ainda, né? aí depois chegou tanta coisa no meu juízo, sabe? que a gente comecemo cantar mermo, e depois ... e eu olhava assim, pro mundo assim... que chegava tanta coisa em meu pensamento que eu nem sabia da onde vinha. Aí comecei direto mermo, sei que até hoje, graças a deus, venho cantando, e até hoje, graças a deus, num passei fome..."

Menino que fala no início do cd do Lenine " O dia em que faremos contato".

segunda-feira, 4 de junho de 2007

"19 vezes eu".

Com 19 anos recentemente completos, quase duas décadas, é natural surgir aquelas pequenas crises existenciais quanto ao tempo de vida e o que será/foi feito durante este. E para exagerar bem, surgem aquelas retrospectivas também. Sim, aquelas que normalmente vemos em filmes ou ouvimos em histórias de quem quase chegou no "céu" e assistiu a um filminho com sua vida sendo o tema principal. Pois aqui tentarei transcrever tal retrospectiva. Portanto, seguindo a sugestão, aqui vai, "19 vezes eu".

- Capítulo segundo


Decidi mudar de colégio no Ensino Médio, o Portinari era um antro de patricinhas e mauricinho e estava um pouco irritada com aquilo, me descobrindo cada dia mais rasa por estar convivendo naquele espaço de hipocrisia hierárquica.
Colégio Oficina era o famoso por ter sido fundado por professores alternativos, antes funcionando numa casa, onde nego subia em árvore, fazia pequenique, etc. Já viram que me encantei com a poesia apresentável do colégio.
1º e 2º anos no Colégio Oficina. Grêmio Germinal, grêmio Sapato 37 ( viva Raul!!), passeatas, apelido: Che (Joana é a única sobrevivente que revive estes passados), Magali Mendes, Manxa, João Pedro, Denise, Joana, Pedrão, Diego, Priscila, Lívia e muitos outros foram aparecendo, surgindo e se envolvendo, nos envolvendo, construindo algo que até hoje é sólido e prazeroso. Hoje é memória, e a memória vive, mas o presente também nos interessa e muito.
Foi nesse período que descobri o circo, o circo Picolino, o trapézio, Fafá, Marcinho, a estrela a dois, a cambalhota a dois, o cristo, o fogo, a contorção, os batimentos acelerados preparados para a entrada no picadeiro...
Abandonei o inglês para fazer aulas no Picolino, onde minha mãe também ingressou junto, mais para exercitar o corpo que para sugar dos movimentos.
Aí, no ano seguinte, 2004, saí do circo por motivos que se aqui acrescentados, param todos de ler agora mesmo. "Vou fazer dança, quero muito dançar, não tiro isso da minha cabeça por nada!".
Sim, dança. Lá fui eu. Dança moderna. Martha Graham. Depois.... "Fulana - gente! Esqueci o nome da professora- será que posso entrar na turma de ballet clássico?". Minhas batatas foram apalpadas, com gosto, para depois ouvir que sim, tinha força para ingressar no robotismo que foram os 4 meses de ballet clássico.
Não aguentei e voltei para o circo, agora só no tecido.
Depois saí e voltei para a ginástica olímpica - esqueci de citar meu ingresso nela nos anos do Portinari, onde descobri com uma amiga que amávamos a arte e vivíamos dando estrelinhas nos corredores. Eu, magra e comprida ao lado de várias crianças, brincando e se pendurando pra lá e pra cá, e eu suando, malhando, igual a uma "cuscuzeira", como, um dia, disse uma das crianças para mim.
Meu pai, numa visita a Salvador, me ofereceu a oportunidade de passar um ano fora fazendo intercâmbio, coisa que de início me assustou, de medo e felicidade. Estava chegando o momento de começar a putaria do 3º ano no Oficina, pois como já conhecia os que passavam por tal tortura, queria por tudo fugir daquela prisão massacrante. O intercâmbio era a melhor oportunidade.

"19 vezes eu".

Com 19 anos recentemente completos, quase duas décadas, é natural surgir aquelas pequenas crises existenciais quanto ao tempo de vida e o que será/foi feito durante este. E para exagerar bem, surgem aquelas retrospectivas também. Sim, aquelas que normalmente vemos em filmes ou ouvimos em histórias de quem quase chegou no "céu" e assistiu a um filminho com sua vida sendo o tema principal. Pois aqui tentarei transcrever tal retrospectiva. Portanto, seguindo a sugestão, aqui vai, "19 vezes eu".

- Capítulo primeiro

Rapidamente tratarei dos 3 primeiros anos, que foram imemoráveis, mas que por informações externas sei que se passaram em Belém do Pará, onde meu pai havia sido transferido de São Paulo para ir trabalhar pela Petrobrás, e onde minha mãe se virou para correr atrás do que lhe interessava, tendo sido meu nascimento a salvação de uma vida monótona.
Dos 4 anos até os 16, com um ano de exceção, morei em Salvador. Cidade para onde, mais uma vez, meu pai havia sido transferido, mas dessa vez minha mãe conseguira se instalar como se fosse sua cidade natal- e de certa forma era próxima de, pois nasceu em Jacobina, mas para tratar de tal assunto seria necessário outro post "50 vezes Lucinete". Para mim é a minha cidade natal, assim considerada e com um fundamento aceitável: não lembro nada dos meus 3 anos em Belém do Pará.
Dos 4 aos 10 estudei no Girassol (considerando apenas o substantivo próprio, tratamos como masculino, e não o contrário, como deveria, por ser"escola"). Foram anos que não me marcaram tanto, pelo menos conscientemente. Na verdade a parte da minha infância é um pouco sem graça por conta da memória que não ajuda a recordá-la. Mas posso ir trabalhando isso e depois de um tempo considerável de terapia desembestar a contar "causos" infantis.
Construí uma amizade importante no Girassol que hoje perdeu sua importância, não na minha memória, mas na vida concreta. Outra não foi construída no Girassol, mas a semente foi plantada lá.
Depois foi a decisão da mãe de ir morar um ano na Alemanha e deixar-me com meu pai no Rio de Janeiro e meu irmão, aos 19, sozinho em Salvador. Para tomar essa decisão teve de me aguentar chorando dias e noites insistindo que nunca me adaptaria à vida carioca e que odiaria aquilo tudo.
Ceat. 5ª série C. Construí amizades e sementes riquíssimas. No início de difícil adaptação, em casa e fora, mas depois muito bem descolada consegui me sentir em casa.
Voltei para Salvador e ingressei no colégio para onde todos do Girassol iam no ginásio, só que por atrasos do meu pai, cidadão de um mundo abstrato, não conquistei minha vaga no período matutino, onde estavam todos os ex-amiguinhos girassóis, e fui mais uma vez obrigada a passar por uma nova adaptação na 6ª série.
Dos 12 aos 14 estudei no Portinari. Sempre à tarde, pois aí já estava ciente da minha capacidade de adaptção rápida e bem sucedida.
Tenho amizades eternas que foram construídas nessa época. Mas foram poucas, comparada aos anos que se seguem.

Laranja com banana e mel.


Será que isso aqui está tomando o espaço e tempo que deveria ser do meu diário?
Não, mais um vez devo estar arrumando uma desculpa para justificar o fato daquele estar parado e rabiscado apenas nas suas primeiras dezenas de páginas, que as últimas contêm quase sempre o conteúdo, mais ou menos assim: a partir de hoje farei o possível para reservar este tempo, pré-sono, a você, escreverei minhas ânsias, meu dia, minhas dúvidas, minhas certezas. Mas sempre me corrompo.
É a preguiça que me corrompe? O medo do desabafo? A falta de prática?
Por aqui sinto-me ainda na mesma barca que me senti nos inícios dos diários, no início do ano, quando me prometo compromisso total, e acabo neste período escrevendo muito mais do que no resto de tempo que deve ser o triplo desse.
Ih, pode ser então que este blog tome o mesmo rumo... Ou não! Aqui o compartilho.
Joana será a responsável por despertar em mim o tesão quando este estiver se perdendo (vixe, coitada de ti, né Jô, só agora explicito-lhe a responsabilidade para com esse blog, que ainda não sabia! :P)
Mas pode ser também que exista outra possibilidade, que é também tão provável quanto as outras: esse blog pode me despertar o desejo de escrever cada vez mais e acabar levando isso para o diário também, onde escreverei o que aqui não convém escrever. Hum, prefiro essa alternativa.
Só que agora vou me concentrar no meu final de vida boêmia e início da rotina: vitamina de laranja com banana e mel, recomendo.

domingo, 3 de junho de 2007

doces homens!

Como são divertidos os homens! Seres tão bobos, mas tão adoráveis! Como suas verdades são frágeis como vidro diante de uma mulher que por ventura os encante!

Contarei aqui a brevíssima travessura que cometi ontem, quando tomava uma cerveja gelada e deliciosa com amigos maravilhosos e enquanto ouvia um cover bêbado de Louis Armstrong cantar bem na minha frente.
Encontrei um amigo na mesa ao lado, saudei-o com furor e contei-lhe o evento embasbacante que acontecera comigo na noite anterior - vos contaria agora mesmo, mas de súbito julguei que a tal história merece a devoção de um post inteiro. Confiram em breve.
Pois bem, eu contava, tagarela, e ele me fitava como um gavião. Eu estava de batom vermelho, toda prosa. Ele arriscou o primeiro bote em vão, como seriam todos os botes daquela noite.
Um pouquinho bêbada, lembrei com pesar do desfalque que outro amigo ali presente me causara, quando furtou minha inseparável rosa vermelha de prender o cabelo para inteirar a cena da filmagem de um videoclipe na noite anterior.
Então eu avisto, sobre o charmoso balcão do bar, um imenso balde repleto de rosas vermelhas. Todas lindas e obscenamente sedutoras. Todas me tentando como podiam: "Roube-me! Ponha-me em seu cabelo!"
Virei para o meu devoto amigo e sentenciei secretamente: "Um homem de verdade já teria roubado uma daquelas lindas rosas para mim…”.
Acreditam que o cabra titubeou? Protestou, mas usando maus argumentos, coitado, e logo pra cima de Joana Cravo e Canela, a autêntica jâmbou-girl, a mais falsa e mais mal acostumada menina do mundo, a cria dileta do sábio Chico Pinto, o que ensina irresponsavelmente à prole que o verdadeiro apaixonado roubaria um banco, se fosse este o desejo da amada.
Estupefata, falei algo como "Você já foi melhor" e me sentei, impassível. Era demais pra mim. Mas que delicioso teatro!
Percebendo a tensão, o pobre mancebo resolve tentar reparar o acontecido e irrompe bar adentro, buscando um ângulo em que pudesse cometer o furto sem ser percebido.
De repente ele volta, mas sem rosas na mão. Ignoro-o. Como um cachorrinho, suplica: "Mas nega, eu tentei". Fui boazinha e deixei que se explicasse:
"Nega, eu olhei pro lado, não vi ninguém e fui pegar a rosa. Puxei uma delas, mas parecia que tava presa. Parecia que tava enterrada. Tentei outra e nada. Puxei uma e de repente vieram todas, era cimento o que prendia, eu acho. De repente o dono do bar apareceu do meu lado, gritando: 'Ei! O que você esta tentando fazer? Largue isso!'. Aí eu larguei, né nega."
Ohhh…
Sorri internamente e fui pregar a peça com outro amigo. Uma boa peça, diga-se, recurso interessante para ensinar deliberadamente alguma arte do amor a esses pobres moços de coração gélido.
Pra convencer o segundo, careceu uma certa dosagem de drama com o veneno de uma mentirinha: “Ah… Você não sabe o que aquele bobo acabou de fazer. Ele recusou meu pedido…” e contei.
Logo depois ele volta, lívido, mas aí eu já estava rindo demais... tadinhos. Eu não presto.

Freud explica.

O coração tem uma capacidade involuntária de contração, de comoção, de distorção, de paixão...
Sim, involuntária. Tem momentos que simplesmente nos pegamos seguindo-o, como quem anda sem rumo e é levado precisamente por uma força externa a um lugar, a uma viagem, a uma sensação, ...
Quando isso acontece é engraçado perceber como a consciência acorda e tenta impedir, ou invadir mais ainda o momento proporcionado. Momentos que tentamos decorar, desenhar em nossas cabeças os traços, as sombras, as tonalidades. Momentos que fazemos grande esforço para mais tarde recordar o que foi dito, cantado, sorrido... Este é o bom lado da consciência, ruim é quando ela vem à tona para "brochar" uma tentativa de se deixar levar pela maré, leve e relaxada.
Bom é ouvir a consciência sempre?
Difícil é reconhecê-la, em certos momentos.

sexta-feira, 1 de junho de 2007


O universo é um presente. Só se surpreendendo com um pôr-do-sol destes por trás da nossa janela para se curar as feridas internas.

Chico no telão.


O evento era "Chico no telão". O show foi no Circo Voador, mas como parte das pessoas, que eu conhecia, pelo menos, não havia comprado ingresso, o telão foi a salvação. E foi mesmo.
Cheguei um tanto atrasada e de longe, ao olhar a multidão em frente ao telão, já me deu um aperto do medo de estar insuportável escutar e assistir Chico cantar. Mas não. O público de Chico, graças, é comportado. E cantando parece contagiar todos com seu ar calmo mas feliz. Eu olhava boqueaberta para o homem, o homem que na casa dos seus sessenta continua belíssimo, que não canta bem, musicalmente falando, mas que articula e intenciona as letras como ninguém.
O azul de sua camisa, o verde de seus olhos, sua voz, tudo, o conjunto, parecia embeber o povo que numa heterogeneidade sentia-se um só: adoradores de Chico.
Tudo que fazia era motivo para suspiros. "Ó, você viu a jogadinha de ombro? Que sutil... que lindo!". E numa pausa avistei grande amigo próximo e até ele corri, parece até que essa energia nos fazia atrair quem gostamos, e durante o abraço começou "Você só dança com ele e diz que é sem compromisso, é bom acabar com isso [...]", só o Chico mesmo!
E na terceira ( eu ainda acho que foi segunda) volta ao palco, finalizou lindamente com:
" Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala [...]"

Ê! Chagall circense.